Luto
de Julizar Dantas
Nos escombros, o berço balança a mulher vestida de preto.
Homens-Bomba
de Julizar Dantas
Explodiram - num piscar de olhos - as portas do paraÃso.
RaÃzes
de Naiara Trajano
Ela não pode mais voar. Enraizou. Não possui mais asas gigantes.
Agora, há de alimentar mais dois.
Vista lunar
de Laura Freignham
Sou o último humano a assistir ao fim da Terra. Conseguimos.
Mais uma segunda-feira
de André LuÃs Viegas
João atrapalha o trânsito. Recebe buzinadas. Para conduzir seu veÃculo de tração própria, tem força e alguma habilidade, não habilitação. Aventura-se por entre as moradias. Cada lixeira ou cesta, é uma chance. Uma moradora o chama, alcança uma sacola com restos de festa: papelões, latas e garrafas vazias. Como bônus, um pote com sobras do almoço de domingo. Ela não tem cachorro.
Presente de Deus
de Juliana Oliveira
Gabriel acordou com coceira nos olhos. Sua mãe deu uma olhada e chorou de emoção. Era uma mancha de Nossa Senhora bem no meio da pupila. Vieram gente de todos os cantos pedindo oração para o menino da mancha. Ganharam dinheiro, presentes e muita adoração. Até que o Doutor Otávio pediu para ver a mancha e em um suspiro só, definiu: retinoblastoma. Mas aà já era tarde demais.
O falatório
de Juliana Oliveira
Na nossa cidadezinha não se entrava ninguém estranho, mas mesmo um nativo não deveria andar calado e sozinho, porque se havia crime maior que a estranheza era a solidão intencionada. Mas só era crime se ocorresse na rua, que, do lado de dentro das casas, solidão era protagonista, e os vizinhos tinham passe livre para ser visita e para ser juiz.
O preço
de Andressa Fernandes
Com quantas horas de vida você comprou esse seu celular?
Alice
de Andressa Fernandes
Quando era jovem, achava que estava no PaÃs das Maravilhas. Com o passar dos anos, sentiu-se o próprio Chapeleiro Maluco.
Solidão
de Marcos Rodrigo
Nas manhãs de verão é o calor quem o retira da cama; nas de inverno, o frio é quem o segura.
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